Provérbios 16:9

No seu coração, o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos.

Você planeja, Deus firma.

O choque entre mapa e estrada

Gostamos de mapas impecáveis. Calendário colorido, metas, métricas, promessas. A ilusão de que controlar o roteiro é controlar a vida. Eu também faço isso. Organizo a semana como quem contrata o futuro. Então o dia chega, e um telefonema, um diagnóstico, um atraso no trânsito desmonta minha arquitetura. O texto não ridiculariza o planejamento, ele nos devolve à realidade: o coração traça linhas, Deus cuida do chão onde o pé pousa.

Provérbios é sabedoria para a vida comum, nascida em Israel para formar gente sagaz e humilde. O alvo não é criar superplanejadores, é treinar a confiar no Deus que atravessa as ruas com a gente.

A devoção secreta ao controle

Há uma devoção secreta escondida no verbo planejar. Chamamos responsabilidade o medo do controle. Batizamos prudência o pavor de parecer fraco. Construímos um eu gerenciável, otimizado, performático, que não aguenta o imprevisto. O versículo corta essa fantasia. Você planeja, mas não reina. Você escolhe, mas não sustenta. Deus determina os passos, e isso desarma a arrogância e conforta o desamparo.

Se seus planos exigem que o mundo se curve, seu deus é o cronograma. Se sua paz depende de que nada atrapalhe, sua esperança está na ausência de surpresas, não na presença de Deus.

O Deus que firma o chão

A palavra traduzida por determina também carrega a ideia de estabelecer, firmar. No hebraico, kûn sugere tornar estável, dar solidez. Não descreve um tirano arbitrário, descreve quem transforma caminho em chão. O Senhor não sequestra nossa liberdade, ele a salva do abismo da autossuficiência. Conduz no detalhe, no ritmo de passo após passo, na sabedoria que floresce com o tempo.

Talvez seus planos estejam certos e o tempo, errado. Talvez estejam bons e o coração, fechado. Deus não humilha quem planeja com honestidade, ele refina, realinha, amadurece.

Planejar com mãos abertas

Planeje, sim. Faça contas, estude cenários, assine compromissos. Depois, abra as mãos. Convide Deus para a mesa antes do e-mail, entregue o amanhã antes do café. E pergunte, na prática: se isto atrasar, quem continua amado e quem continua servido? Quando a rota mudar, em vez de chamar de azar, pergunte o que está sendo revelado. Interrupções podem ser livramentos. Portas fechadas podem ser guias. A graça não dispensa planilhas, ela impede que planilhas definam você.

Experimente revisar seus planos com perguntas simples: isso me torna mais livre para amar ou apenas mais ocupado para parecer importante? Isso serve pessoas ou só alimenta meu ego? Se o Senhor firmar passos em outra direção, consigo obedecer sem performance de controle?

No coração, desenhe mapas. Nos pés, aceite companhia. A estrada verdadeira é pavimentada por Deus, um passo de cada vez.

O plano é seu. O chão, Dele.